domingo, 20 de março de 2011

A FRANCO-MAÇONARIA NA INGLATERRA DEPOIS DE 1717

Um texto para discussões posteriores...


Fonte: Guide des Maçons Écossais – 1804.
“Primeiro Ritual formulado para os Graus Simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito” – Albert Pike: Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho dos 33 Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito da Jurisdição Meridional dos Estados Unidos da América.
(Pórtico e a Câmara do Meio – O Livro da Loja. São Paulo: Landmark, 2002, p. 10)



A FRANCO-MAÇONARIA NA INGLATERRA DEPOIS DE 1717

“No início do século XVIII, a Franco-maçonaria estava em franca decomposição no sul da Inglaterra. As perturbações que se seguiram à Revolução que levara Guilherme III ao trono, a exaltação consecutiva aos sentimentos políticos que agitavam os dois partidos em causa na nação, tinham dado àquela pacífica sociedade um golpe fatal ao seu desenvolvimento…”

Em tal clima, a Grande Loja de Londres vai sofrer as maiores dificuldades, não só para prosperar, mas, simplesmente, para viver. Na verdade, quando pensava ter-se tornado, então, a porta-voz autorizada da Franco-maçonaria para todo o universo, isso “desde tempos imemoriais”, eis que, há duzentos e cinqüenta anos, ela não passa de uma pequena organização em meio a muitas outras, e certamente não a mais forte entre todas.

Há, também, a Grande Loja de York, que se vangloria, aparentemente com certa razão, de ser a origem da Maçonaria na Inglaterra. Desde 1725, surgem atritos entre as duas Obediências. Em 1735 houve a ruptura aberta, porque a Grande Loja de Londres criou duas Oficinas em território da Grande Loja de York.

Isso foi apenas o começo, um pequeno começo. Alguns anos mais tarde, a situação vai tornar-se muito delicada, e a Grande Loja não poderá sobreviver senão entrando em composição com outros corpos maçônicos regulares existentes na Inglaterra.

“É evidente que existem manchas na história da primeira Grande Loja. E por causa dessas manchas os descontentes tiveram número para formar uma nova Grande Loja, que afirmará o seu sucesso. Sua tarefa tornou-se mais fácil pela fraqueza e incompetência dos mais idosos. Nos onze anos que vão de 1742 a 1752, a primeira Grande Loja teve de proceder ao cancelamento da quarenta e cinco Lojas apenas no distrito de Londres. J. Heron Lepper, em suas estatísticas, faz notar que, em 1755, quando se procedia a uma nova numeração das Oficinas para 1756, só restavam 199 Lojas, das 271 que deveriam normalmente existir. Assim, segundo tudo faz crer, mais de um quarto das Lojas ligadas à primeira Grande Loja tinham adormecido,* embora algumas entre elas, através de algo que não podemos saber o que seja, tenham podido passar para os Antigos…”

Outra causa de desentendimento: a falta de descrição. Os “segredos” maçônicos foram mal-guardados, as iniciações irregulares tornaram-se habituais e a tal ponto que um dia apareceu, pregada à porta de uma taverna: “Aqui, fazem-se maçons por 2 s. 6 d”. Os folhetos antimaçônicos, as caricaturas largamente difundidas, contribuem para manter em relação à Franco-maçonaria uma atitude de desconfiança, e até mesmo de desprezo.

Enfim, nada de novo sob o triângulo, e a história contemporânea não faz senão reproduzir a do século XVIII.

“… a Franco-maçonaria desenvolveu-se rapidamente na França, na Irlanda e na Escócia. Os Franco-maçons desses países viajavam para a Inglaterra e traziam consigo idéias que haviam germinado em solo inglês, mas que, ainda assim, eram caras e preciosas para os que elas se prendiam. É provável que a Grande Loja ficasse muito contrariada, por volta de 1730, ao ver o número de maçons não-filiados que vinham aparentemente, de toda a parte e de parte alguma, reclamando sua entrada nas Lojas. Do ponto de vista oficial, cada um desses maçons não-filiados era irregular, e, assim, a fim de tornar as coisas difíceis, se não impossíveis, a Grande Loja resolveu, em 1730, dar um grande golpe…”

Que golpe? Oh! Isso não é muito complicado. Com sua própria autoridade – é a primeira vez e não será a última – a Grande Loja decide alterar os sinais de reconhecimento do Primeiro e do Segundo Graus. “Mas”, direis vós, “e os Landmark?” Os Landmark! Falaremos deles nos próximos capítulos. Acho suficiente prevenir-vos desde agora: quando se estuda a história da Grande Loja da Inglaterra, com toda a imparcialidade histórica, vê-se que os Landmark nada mais são do que uma palavra bem cunhada atrás da qual nada existe, mais que é muito útil para sair de uma situação embaraçosa, quando, logicamente, não se sabe mais o que responder.

Naturalmente, a Grande Loja, com toda a boa-fé, acreditou agir bem aletrando os inalteráveis Landmark. Infelizmente, um bom número de Irmãos não entendeu assim. Não estou muito certo de que todos compreendessem exatamente o valor de suas palavras e símbolos – isso seria bom demais – porém apegaram-se a eles.

Sob o impulso de um recém-vindo à Maçonaria, Laurence Dermott, criou-se um cisma, e uma parte dos Irmãos abandonou a Grande Loja para fundar uma nova Obediência. Que é Laurence Dermott? Um simples operário, um pintor de pardes de origem profana e maçônica irlandesa. Os velhos maçons estão mortos… desaguliers, Anderson etc. A Grande Loja enfraqueceu exatamente quando diante dela vai erguer-se um Irmão que seu contemporâneos, depois os historiadores, detestem-no ou adulem-no, reconhecerão como um dos homens mais equilibrados do seu tempo.

Esse pintor de paredes revelasse um organizador de primeira ordem, um panfletário mordaz, um diplomata sutil. É com uma quase espécie de gênio na compreensão da natureza humana que ele monta uma nova Obediência. Dá-lhe o nome de “Antigos”, com o qual desacreditará imediatamente a primeira Grande Loja, que ele designa, com extravagante intenção, como “Modernos”. Ora, para quem conhece a mentalidade inglesa, sobretudo naquela época, os “Antigos”, embora fossem os últimos a chegar, tinham naturalmente prioridade sobre os “Modernos”. Dermott põe em dia uma Constituição, dando-lhe o nome bastante bizarro de Ahiman Rezon – palavras hebraicas mal-digeridas pelo autor – constituição essa composta de amplos empréstimos tomados às “Constituições” de Anderson, entremeados com texto de origem irlandesa.

“… De Laurence Dermott pode dizer-se, sem receio de cair no panegírico, que foi o maçom mais notável de seu tempo. ‘Como polemista’, observa um escritor sério, ‘ele era sarcástico, amargo, não admitindo compromisso algum, porém nem sempre se mostrava sincero ou verídico. Do ponto de vista intelectual, contudo, não cedia diante de nenhum de seus adversários. No que concerne à sua concepção filosófica do caráter da Instituição Maçônica, estava avançado em relação ao espírito do seu tempo’. Talvez não fosse um autor muito escrupuloso, mas era incomparável administrador. Como escritor, foi a encarnação do ditado: “de I’audace, encore de I’audace, toujours de I’audace”. Como administrador exibiu qualidades que não encontramos reunidas em nenhum outro membro da Ordem, nem antes nem depois dele…Foi a alma e a vida da organização a que se associou tão intimamente…”

A partir de 1751 – data oficial do nascimento da Grande Loja chamada dos “Antigos” – as duas Grandes Lojas que partilham entre si a maioria dos maçons ingleses vão bater-se mutuamente como duas megeras num cortiço sórdido. Nenhuma injúria será demasiado aviltadora, nenhuma imputação demasiado caluniosa, nenhum argumento demasiado ferino.Uma e outra podem, entretanto, alinhar em seus registros de matrículas os nomes ingleses mais famosos da época. O rumor chama a atenção, a atenção desperta a curiosidade a as pessoas fazem-se maçons como quem vai ao teatro. A menos que – quem sabe – os príncipes não considerem cômodo o exercer, com pouca despesa, fiscalização direta sobre os corpos constituídos que se tornarão seus mais fiéis agentes de propaganda e de governo… Vamos! Que idéia! Pois já não vos disseram que a Maçonaria inglesa jamais fez nem jamais fará política? Mas, no fundo, que vem a ser política? Voltaremos a falar disso.

Essa situação dura mais de cinqüenta anos… até o dia, em 1813, em que o duque de Sussex é promovido a Grão-mestre dos “Modernos”, e seu irmão e Irmão, o duque de Kent, a Grão-mestre dos “Antigos”, oficialmente, a “União” foi realizada no dia 27 de dezembro de 1813, data que marca o nascimento da atual Grande Loja Unida da Inglaterra.Antes de terminar – provisoriamente – com a Grande Loja Unida da Inglaterra, quero fazer alguns comentários que, para mim, situam claramente a posição dela na história e na doutrina.Uma frase de Bernard Jones levou-me a devanear por muito tempo… “Os acontecimentos que, nos bastidores, levaram à União, não são conhecidos, mas toda a parte oficial é muito clara.”

Que se passa, então, “nos bastidores”, em 1813? Nada mais, muito possivelmente, que conversas de dois irmãos príncipes de sangue, sobre o estado do reino. Esse estado nos é descrito numa frase lapidar, extraída de um excelente livro de história atualmente em uso nas escolas inglesas, e que se traduz como se segue: 1806 – 1810 – 1815. “A Nação aperta o cinto e resiste até que Napoleão seja batido.”E não se trata de “apertar o cinto” no sentido que nós, franceses, damos a essa expressão. Fiz uma tradução literal que não pude evitar, quando deveria ter escrito em termos mais bíblicos: “A Nação cinge seus rins!”União, total união de todos os ingleses contra o Ogre. Afinal, não apenas os maçons irão fornecer o penosos espetáculo de suas discórdias quando a nação exige de todos os seus filhos.

Sentimento patriótico muito honroso, embora na ocasião fosse dirigido contra nós, mas que, sem que eu deseje criticá-lo no que quer que seja, mostra que o Franco-maçonaria inglesa não é assim tão insensível, como que mostrar, a uma certa forma de política… A “alta” política!

Enfim, a Grande Loja da Inglaterra está fundada e reclama o título de a mais antiga Grande Loja do mundo, já que descende diretamente da Grande Loja de Londres de 1717. para ser sincero, historicamente, eu digo “Não!” Não; a Grande Loja Unida da Inglaterra não é filha de Anderson e Desaguliers. Ela os renegara, de há muitos anos já, quando transformou as velhas “Constituições” de 1732. ela é filha de Laurence Dermott, o pintorzinho irlandês. E é uma homenagem que eu presto a esse homem, porque foi esse pintorzinho que trouxe o pouco que lhe resta de verdadeira espiritualidade, foi ele quem manteve a filiação iniciática tradicional, rompida pelos “filósofos” no começo do século.

“Se vos disserem que isso é dar atenção demais a uma questão sem importância que foi resolvida no começo do século XIX, respondereis que, se jamais se tivesse formado uma Grande Loja rival, a Franco-maçonaria inglesa seria hoje mais pobre, e nenhum dos nossos Graus azuis seria o que é. Sem ela, a cerimônia de instalação não passaria de uma simples tomada de posse da poltrona presidencial pelo Venerável que tivesse sido eleito… o livros das ‘Constituições’, segundo todas as probabilidades, seria diferente, e certamente mais pobre em certos pontos. Finalmente, um rápido estudo da querela que se acendeu no seio da Franco-maçonaria do século XVIII nos ensina muita coisa a respeito das condições sob as quais se formaram as práticas, as cerimônias e o ritual de que atualmente goza a Franco-maçonaria inglesa”.

É uma pena – e eu digo sem ironia, antes com profunda tristeza -, pensando em meus Irmãos do outro lado do Canal, que são também meus amigos, que a Maçonaria inglesa, passados que são os maus dias não tenha levado o espírito de união até ver como se comportavam as Obediências – todas as Obediências de sua Irmã pelo espírito da Ordem, a Maçonaria francesa.Ela teria visto que herdamos de nossos “antigos” – os Companheiros, os Templários, os Hermetistas – um legado de riqueza ainda mais resplandecente do que aquela de que lhe fez presente Laurence Dermott, o irlandês místico e obstinado.


OBS: Não tenho a fonte (nome da pessoa) que me enviou o texto acima, por isso não estou citando-a.

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